2.12.18

8. White rabbit

Grace Slick, 1960's
O que me salvou na adolescência certamente foi a música.Vivia embebida de videoclipes, que eu assistia desde o primeiro horário, enquanto me arrumava para a escola, com os meus 14 anos. Assim eu conheci o Red Hot Chili Peppers, a MTV, o Pink Floyd, o Black Sabbath, Genesis...

Com a chegada do meu primeiro computador, que foi na mesma época, e a troca da internet discada pelo Speedy - atualização tecnológica que acarretou em meu maldito vício nas novas tecnologias -, comecei a ler bastante sobre essas coisas e encontrar mais coisas, seja no Orkut, blogs, outros fóruns, pesquisas no buscador Cadê?...

E tinha o Top Top MTV, que era a melhor coisa do universo naquele momento. Era uma linguagem engraçada e jornalística de Marina Person e Leo Madeira contando fatos e curiosidades históricas de bandas clássicas e outras nem tão clássicas assim. Cada episódio possuía um tema e um cenário; era quase como se fosse um antepassado dos canais atuais de youtube.

Meus episódios favoritos eram sobre os artistas que morriam aos 27 anos, sobre o Ozzy arrancando cabeças de morcegos (e pombas brancas) com a boca, os artistas mais drogados e as mortes mais estranhas... Enfim. Muito mais legal que repassar corrente sobre mamadeiras de piroca.

E teve um episódio. Ah, aquele episódio. Não me lembro o tema, mas me lembro que um dos 10 do Top Top era Grace Slick. Que mulher!

Pois bem. Ela era vocalista da banda psicodélica Jefferson Airplane (chega a manteiga derrete). Nesse momento de minha vida eu tinha o sonho impossível de ser hippie. Digo impossível, porque os hippies de agora são completamente diferentes, e acuso até de estragadores do movimento. Então eu achava o máximo o Woodstock, as mulheres dançando sem a parte de cima da roupa, os casais dentro de uma kombi com um quadradinho na boca e um caleidoscópio na cabeça.

Terry Gilliam's Fear and loathing in Las Vegas - Johnny Depp e Flea, 1998
Janis Joplin! Quando, na mesma MTV, comentaram que ela era feia, ou que era considerada feia, eu simplesmente não acreditei. Acho ela lindíssima, inclusive a chamaria para sair. Hendrix, outros artistas que morreram cedo... O lisérgico teoricamente salvava minha vida de uma realidade brasileira familiar insuportável. Sem a música, a (minha) vida seria um erro.

Grace Slick e Janis Joplin
Voltando aos Jeffersons... Eles apareceram num Top Top relacionado às drogas, onde a Marina Person enfatizava que Grace Slick se drogava (dizem) com uma droga diferente a cada gravação de uma mesma música, para ver se ela estava psicodélica o suficiente. Essa música narrava a história de Alice no país das maravilhas, por um motivo específico:
Grace has always said that White Rabbit was intended as a slap toward parents who read their children stories such as Alice in Wonderland (in which Alice uses several drug-like substances in order to change herself) and then wondered why their children grew up to do drugs. For Grace and others in the ’60s, drugs were an inevitable part of mind-expanding and social experimentation. With its enigmatic lyrics, White Rabbit became one of the first songs to sneak drug references past censors on the radio.
O texto acima, traduzido pelo wikipedia, foi tirado do site da banda antes de sua atualização (é possível verificar a veracidade no web.archive.org), em português fica mais ou menos assim:
[...] para Grace, a intenção da canção era como um "tapa" aos pais que lêem histórias infantis tais quais a de Alice (em que ela usa diversas substâncias alucinógenas para mudar a si mesma), e depois se perguntam por que seus filhos começam a se drogar. Para Grace e outros da década de 1960, as drogas eram parte inevitável de um processo de transcendência da mente e experimentação social. 
Alice in wonderland - Caterpillar, 1951
And if you go chasing rabbits
And you know you're going to fall
Tell 'em a hookah-smoking caterpillar
Has given you the call

Outro comentário legal sobre a música está no site Universo Retrô, mais 8 fatos sobre Grace Slick que nem eu conhecia:
Canção composta por Grace em 1966, ainda antes dela entrar no Jefferson Airplane, White Rabbit teve enorme sucesso e é emblemática do chamado Acid Rock ou Rock Psicodélico. De forma muito sutil (para driblar a censura da época) descreve o efeito de drogas alucinógenas na mente usando passagens dos livros Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. A cadência da música é propositalmente lenta e suave no início e segue um crescendo, como que tentando induzir um transe no ouvinte. Os vocais cavernosos de Grace contribuem para a sensação de “fora da realidade” proporcionada pela canção.
E mais:
Com um crescendo similar ao empregado por Maurice Ravel em seu famoso Bolero, e tendo forte influência da música espanhola, a composição e sua letra sugerem as distorções sensoriais experimentadas com o uso de alucinógenos.
Agora sim, ouçam essa belezinha, pois não podia ser outra a indicada sob esse tema.

8. a song about drugs and alcohol (uma música sobre drogas e álcool)



Leia os outros textos do 30 day music challenge, e aguarde que ao final haverá playlist!
Ouça também a ótima versão da Pink para o filme bosta 😷 live action que o Tim Burton fez!

2 comentários

  1. Ah, eu acho essa música foda demais 💗

    E seu post ficou maravilhoso. Esta parte:

    "Meus episódios favoritos eram sobre os artistas que morriam aos 27 anos, sobre o Ozzy arrancando cabeças de morcegos (e pombas brancas) com a boca, os artistas mais drogados e as mortes mais estranhas... Enfim. Muito mais legal que repassar corrente sobre mamadeiras de piroca."

    MELHOR PARTE HAHAHA 💗

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  2. que saudade da época da mtv ♥ eu era fã de my chemical romance e não havia outro lugar onde eu podia ver os clipes (eu não conhecia o youtube e, na vdd, nem sabia se já existia haha). o jeito era aguardar o disk mtv e votar pro clipe ficar entre os 10 hahahaha eu ficava esperando até o final, torcendo pra ficar me primeiro lugar :D
    e como assim alguém nesse mundo acha a janis feia? que mulherrrr ♥♥
    eu adoro white rabbit. me dá uma nostalgia gostosa ouvir.

    bjss e bom findê!

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Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo