15.12.18

Shut up and play my songs

Meu alter ego é o Pingu
Muitos já me disseram que só gosto de músicas tristes. Mamãe, a Tatiana, a Beatriz. Até indiretamente, eu estava feliz que finalmente havia começado uma música que gosto numa festa de natal, e a pessoa com o controle remoto apenas disse "ai que música triste", e trocou por uma alegre e pop.

Passo horas ouvindo músicas consideradas tristes. Mas não as considerava até o momento em que ouvia alguma lamúria de Belchior e mamãe reclamou. Ou a Tatiana dizendo que meus mantras pareciam pessoas gemendo, morrendo. A Bia disse esses dias "não sei como você consegue ouvir esse tipo de música" - era Vapor barato.

Talvez vocês já tenham percebido que eu adoro impôr e quase que enfiar minha mão pela tela dos computadores de vocês e dar eu mesma play nas músicas que recomendo. Seria capaz de imobilizá-los e fazê-los ouvir mesmo que não queiram. Sim, amigos já me disseram que tenho um - ou dois - pés no autoritarismo. Pois na vida real é o contrário. Eu sou a tradução daquele meme "hahaha você é muito engraçado nas suas postagens, deve ser muito legal na vida real" *você na vida real é o Severo Snape*, só que na versão musical.

Eu fazendo vocês ouvirem o que eu quero por meio desse blog
Vou na casa das pessoas e elas democraticamente me obrigam a botar algo para tocar. Isso equivale ao fala alguma coisa, que me trava completamente e minha mente vira a tela azul do windows. Vou ter que fazer uma playlist "Coisas que eu devo ouvir na casa dos outros", para não ser pega de surpresa com essa imposição.

Seria o meu momento de autoridade, de mostrar para o pessoal minhas qualidades auditivas™, mas eu simplesmente me escondo na minha carapaça de carangueja. Botar uma música minha para alguém ouvir é ficar nua. Nua em alma. Porque em corpo, convenhamos, é muito fácil. Principalmente quando tento colocar as minhas top 10 e a pessoa diz "não gostei". Nada contra a pessoa não gostar das minhas músicas, também não gosto das músicas dos meus amigos. Mas como são coisas de eras atrás, e que me atraem muito além dos riffs de guitarra, ouvir um comentário que deveria ser natural é a mesma coisa de me chamar gratuitamente de filha da puta.
Parece drama. Mas não é a intenção, só estou apontando o quão curiosa é essa relação que tenho com o que ouço, e como é perigoso mostrar essas coisas que nem são minhas, mas que são tão de mim, que me embaraço, me escondo, sinto ciúme. É como dar o ouro ao ladrão.

Mas escrever sobre música, ah. Isso eu faço com os pés nas costas, de olhos fechados, de cabeça para baixo. É a grande graça desse blog, inclusive. Vocês não acham? Eu acho. Nietzsche estava certíssimo em considerar que sem música, a vida seria um erro. A minha, por exemplo, não faria sentido algum.


Só comecei esse texto porque estava ouvindo Nights In White Satin do The Moody Blues e fiquei com aquele aperto no peito que me fez querer escrever. Nem sei que fim dar a esse post, mas acho que vou utilizá-lo como pretexto introdutório para criar playlists temáticas e compartilhá-las aqui, mesclando as ideias muito boas da Michelle e da Gabriela, além de, de fato, ter o que tocar na casa do boy. Ou mesmo o que tocar conforme meu humor para criar os relatórios lá do museu. Porque às vezes você perde a vontade de ouvir música, ou a inspiração para alguma atividade simplesmente porque deu play na estação errada, ou buscou tudo e não encontrou nada, ficando enfastiada.

E é claro que vou desenhar bastante. É um projeto de anos que eu movimentei 0 dedos para concretizar, até agora. Mas 2019 está chegando, e fim de ano é o momento das promessas. O 30 day music challenge é algo que continua, e que virará playlist também. Pretendo buscar mais tags e memes para concretizar aqui no blog - se souberem de alguma, me avisem. Ousar resenhar filmes com trilhas sonoras que arrancam suspiros do meu coraçãozinho. Isso tudo vai me ajudar nos artigos, resenhas da pós e, quem sabe, no projeto de mestrado de logo mais.

Tudo isso dito, nada me impede de ouvir e dançar todo tipo de música. Tenho meu lado Apolo e meu lado Dionísio, temáticas que posso abordar aqui depois também. Então é claro que, se há festa, e se na festa há álcool, obviamente rebolo até não aguentar mais. Clique aqui para assistir meu gosto musical resumido em 15 segundos.

Eu ontem na festa da firma (sério)

9.12.18

Salamandra

Desenhado (por mim) a partir daqui
Salamander, burn for me
And I'll burn for you

2.12.18

8. White rabbit

Grace Slick, 1960's
O que me salvou na adolescência certamente foi a música.Vivia embebida de videoclipes, que eu assistia desde o primeiro horário, enquanto me arrumava para a escola, com os meus 14 anos. Assim eu conheci o Red Hot Chili Peppers, a MTV, o Pink Floyd, o Black Sabbath, Genesis...

Com a chegada do meu primeiro computador, que foi na mesma época, e a troca da internet discada pelo Speedy - atualização tecnológica que acarretou em meu maldito vício nas novas tecnologias -, comecei a ler bastante sobre essas coisas e encontrar mais coisas, seja no Orkut, blogs, outros fóruns, pesquisas no buscador Cadê?...

E tinha o Top Top MTV, que era a melhor coisa do universo naquele momento. Era uma linguagem engraçada e jornalística de Marina Person e Leo Madeira contando fatos e curiosidades históricas de bandas clássicas e outras nem tão clássicas assim. Cada episódio possuía um tema e um cenário; era quase como se fosse um antepassado dos canais atuais de youtube.

Meus episódios favoritos eram sobre os artistas que morriam aos 27 anos, sobre o Ozzy arrancando cabeças de morcegos (e pombas brancas) com a boca, os artistas mais drogados e as mortes mais estranhas... Enfim. Muito mais legal que repassar corrente sobre mamadeiras de piroca.

E teve um episódio. Ah, aquele episódio. Não me lembro o tema, mas me lembro que um dos 10 do Top Top era Grace Slick. Que mulher!

Pois bem. Ela era vocalista da banda psicodélica Jefferson Airplane (chega a manteiga derrete). Nesse momento de minha vida eu tinha o sonho impossível de ser hippie. Digo impossível, porque os hippies de agora são completamente diferentes, e acuso até de estragadores do movimento. Então eu achava o máximo o Woodstock, as mulheres dançando sem a parte de cima da roupa, os casais dentro de uma kombi com um quadradinho na boca e um caleidoscópio na cabeça.

Terry Gilliam's Fear and loathing in Las Vegas - Johnny Depp e Flea, 1998
Janis Joplin! Quando, na mesma MTV, comentaram que ela era feia, ou que era considerada feia, eu simplesmente não acreditei. Acho ela lindíssima, inclusive a chamaria para sair. Hendrix, outros artistas que morreram cedo... O lisérgico teoricamente salvava minha vida de uma realidade brasileira familiar insuportável. Sem a música, a (minha) vida seria um erro.

Grace Slick e Janis Joplin
Voltando aos Jeffersons... Eles apareceram num Top Top relacionado às drogas, onde a Marina Person enfatizava que Grace Slick se drogava (dizem) com uma droga diferente a cada gravação de uma mesma música, para ver se ela estava psicodélica o suficiente. Essa música narrava a história de Alice no país das maravilhas, por um motivo específico:
Grace has always said that White Rabbit was intended as a slap toward parents who read their children stories such as Alice in Wonderland (in which Alice uses several drug-like substances in order to change herself) and then wondered why their children grew up to do drugs. For Grace and others in the ’60s, drugs were an inevitable part of mind-expanding and social experimentation. With its enigmatic lyrics, White Rabbit became one of the first songs to sneak drug references past censors on the radio.
O texto acima, traduzido pelo wikipedia, foi tirado do site da banda antes de sua atualização (é possível verificar a veracidade no web.archive.org), em português fica mais ou menos assim:
[...] para Grace, a intenção da canção era como um "tapa" aos pais que lêem histórias infantis tais quais a de Alice (em que ela usa diversas substâncias alucinógenas para mudar a si mesma), e depois se perguntam por que seus filhos começam a se drogar. Para Grace e outros da década de 1960, as drogas eram parte inevitável de um processo de transcendência da mente e experimentação social. 
Alice in wonderland - Caterpillar, 1951
And if you go chasing rabbits
And you know you're going to fall
Tell 'em a hookah-smoking caterpillar
Has given you the call

Outro comentário legal sobre a música está no site Universo Retrô, mais 8 fatos sobre Grace Slick que nem eu conhecia:
Canção composta por Grace em 1966, ainda antes dela entrar no Jefferson Airplane, White Rabbit teve enorme sucesso e é emblemática do chamado Acid Rock ou Rock Psicodélico. De forma muito sutil (para driblar a censura da época) descreve o efeito de drogas alucinógenas na mente usando passagens dos livros Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. A cadência da música é propositalmente lenta e suave no início e segue um crescendo, como que tentando induzir um transe no ouvinte. Os vocais cavernosos de Grace contribuem para a sensação de “fora da realidade” proporcionada pela canção.
E mais:
Com um crescendo similar ao empregado por Maurice Ravel em seu famoso Bolero, e tendo forte influência da música espanhola, a composição e sua letra sugerem as distorções sensoriais experimentadas com o uso de alucinógenos.
Agora sim, ouçam essa belezinha, pois não podia ser outra a indicada sob esse tema.

8. a song about drugs and alcohol (uma música sobre drogas e álcool)



Leia os outros textos do 30 day music challenge, e aguarde que ao final haverá playlist!
Ouça também a ótima versão da Pink para o filme bosta 😷 live action que o Tim Burton fez!
© um velho mundo
Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo