Beyond the horizon of the place we lived when we were young
In a world of magnets and miracles
Our thoughts strayed constantly and without boundary
The ringing of the division bell had begun
Eu tinha um texto muito bom sobre High Hopes que achei que havia guardado, mas não encontrei. Encontrei foi outro, de oito anos atrás, em que escrevi uma frase que cabe tanto no dia de hoje, só que é tão mais raivosa, que me assustei comigo mesma.
Mas vamos ao que interessa.
The Division Bell¹ é o primeiro disco que comprei (cd) do Pink Floyd, e costumo ouvi-lo de tempos em tempos, pois prefiro o período pré-The Dark side of the moon. Mas ele tem umas pérolas maravilhosas que combinam com certos estados de espírito meus que se ativam de vez em quando.
O texto que eu buscava falava de High Hopes, que por muito tempo foi minha música favorita da banda - tecnicamente é Summer '68, mas em questões de alma é A Saucerful of secrets. E falando em A Saucerful of secrets, que é a canção a ser tocada em meu velório, como já comentei aqui, High hopes nesse texto ilustrava o meu mundo post-mortem. E ontem eu estava fazendo umas coisas sozinha e ouvindo esse disco e me lembrei, quando vi a capa. Não sei se o design de Storm Thorgerson ou o videoclipe e a letra influenciam, até porque não costumo assistir e ler, mas minha vida após a morte é tão maravilhosa quanto as imagens dessa obra.
Quando era mais jovem, mais precisamente no final do ensino médio, passei a ouvir Pink Floyd. Antes eu achava uma banda xis barulhenta, muito azul-e-rosa-eletrônica. Mas aí o fervor político brotou e The Wall é uma peça que vem ano, vai ano, você entende ser mais complexa do que um simples mandar o professor ir à casa do caralho (mando até hoje). Só que High Hopes me pegou pelo pé, ainda mais quando assisti ao videoclipe, porque é muito um pedaço de mim que nem sei explicar. Vou tentar reproduzir o que me lembro do texto perdido, mas a sensação é a mesma.
O campo aberto, os homens com pernas de pau e aqueles com tecidos enormes formando uma foice com o vento, é uma imagem que abre um buraco negro no meu peito. A guitarra havaiana, esse som contínuo que parece que sobe aos céus em espiral de vento gélido, parece que puxa minha alma do peito como se fosse um fio prateado sendo tecido pelas moiras.
E eu ouvia esse disco, e imaginava uma estrada, curva para a direita, onde, do lado direito há uma montanha, e do esquerdo uma planície, e mais distante ainda uma floresta densa. Nesse mundo, que eu percebi que era meu mundo após a morte, só tinha eu. Não tinha aves, não tinha mamíferos, nem peixes. Nem gente, o que é muito importante. Meu mundo após a morte seria o mais absoluto silêncio, eu deitada numa pedra nessa planície observando as nuvens passarem, e nada mais.
Como sou adepta a viagens de carro - era, inclusive, meu meio de sonhar acordada quando criança -, quando vejo essa estrada e essa colina, é como se eu estivesse em um. Mas também não há carro. Nem portas, nem teto, nem janela. Nem eu caminhando. Então, deduzo, é minha alma vagando por esse espaço vazio, que me dá uma puta vontade de correr. Quando vejo espaços vazios muito amplos, sinto vontade de correr até me estabacar em algum lugar.
Então essa liberdade do vazio me acompanha desde muito pequena. Eu me lembro que o que me chamou a atenção para os estudos, antes da matemática e da história, foi a ciência. O primeiro livro que eu pegava quando chegava em casa era o que tinha os planetas, porque eu namorava Júpiter e sua grandeza, e sua mancha ali bem no meio das listras. Amava perceber como o universo é tão infinito e nós, tão ínfimos. Não sei para vocês, mas eu me sinto segura sem barreiras. Uma coisa que me alivia a ansiedade é olhar para o céu e saber que não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. Então, saber que existem estrelas maiores que o sol, buracos negros que sugam o que vier pela frente, não sei quantas luas em Saturno, e que a velocidade da Luz é algo mais legal que o tempo do relógio, me conforta demais. Parece que todos eles dizem "fica tranquila que estamos aqui olhando por você, mas você ao mesmo tempo não é ninguém". Se faz sentido? Para mim faz, e é o que interessa.
Eu ia à biblioteca da escola em algumas aulas e sempre buscava o Guia dos Curiosos, e lia sobre isso e sobre duendes, incubus, succubus... Tudo que arranhava meu coração me fascinava. E High Hopes, estando num campo aberto e vazio de gente e de sons, só o vento o céu, a terra e eu, é como um sopro no peito, como quando enchemos uma bexiga. E nesse encher essa bexiga que é o meu coração, é como se ele parasse de bater, e eu flutuasse com esse ar todo, frio, leve.
E eu ouvia esse disco, e imaginava uma estrada, curva para a direita, onde, do lado direito há uma montanha, e do esquerdo uma planície, e mais distante ainda uma floresta densa. Nesse mundo, que eu percebi que era meu mundo após a morte, só tinha eu. Não tinha aves, não tinha mamíferos, nem peixes. Nem gente, o que é muito importante. Meu mundo após a morte seria o mais absoluto silêncio, eu deitada numa pedra nessa planície observando as nuvens passarem, e nada mais.
Como sou adepta a viagens de carro - era, inclusive, meu meio de sonhar acordada quando criança -, quando vejo essa estrada e essa colina, é como se eu estivesse em um. Mas também não há carro. Nem portas, nem teto, nem janela. Nem eu caminhando. Então, deduzo, é minha alma vagando por esse espaço vazio, que me dá uma puta vontade de correr. Quando vejo espaços vazios muito amplos, sinto vontade de correr até me estabacar em algum lugar.
Então essa liberdade do vazio me acompanha desde muito pequena. Eu me lembro que o que me chamou a atenção para os estudos, antes da matemática e da história, foi a ciência. O primeiro livro que eu pegava quando chegava em casa era o que tinha os planetas, porque eu namorava Júpiter e sua grandeza, e sua mancha ali bem no meio das listras. Amava perceber como o universo é tão infinito e nós, tão ínfimos. Não sei para vocês, mas eu me sinto segura sem barreiras. Uma coisa que me alivia a ansiedade é olhar para o céu e saber que não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. Então, saber que existem estrelas maiores que o sol, buracos negros que sugam o que vier pela frente, não sei quantas luas em Saturno, e que a velocidade da Luz é algo mais legal que o tempo do relógio, me conforta demais. Parece que todos eles dizem "fica tranquila que estamos aqui olhando por você, mas você ao mesmo tempo não é ninguém". Se faz sentido? Para mim faz, e é o que interessa.
Eu ia à biblioteca da escola em algumas aulas e sempre buscava o Guia dos Curiosos, e lia sobre isso e sobre duendes, incubus, succubus... Tudo que arranhava meu coração me fascinava. E High Hopes, estando num campo aberto e vazio de gente e de sons, só o vento o céu, a terra e eu, é como um sopro no peito, como quando enchemos uma bexiga. E nesse encher essa bexiga que é o meu coração, é como se ele parasse de bater, e eu flutuasse com esse ar todo, frio, leve.
There's a hunger still unsatisfied
Our weary eyes still stray to the horizon
Though down this road we've been so many times
The grass was greener
The light was brighter
The taste was sweeter
The nights of wonder
With friends surrounded
The dawn mist glowing
The water flowing
The endless river
Forever and ever
1."The Division Bell é o décimo quarto álbum de estúdio da banda britânica de rock Pink Floyd. O disco foi lançado em 28 de março de 1994 [...]. Suas canções foram escritas principalmente pelo guitarrista David Gilmour e pelo tecladista Richard Wright e tem como principal tema a falta de comunicação, junto com outras questões como o isolamento, conflitos e autodefesa."
* As imagens selecionadas me lembram novamente da "Dança da morte", encenada em O Sétimo selo de Ingmar Bergman.
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