3.4.20

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Eu morri ano passado e isso não é um trecho da música do Belchior. Envolve vários acontecimentos, muitas mortes e lutos diversos. Engraçado que, desde os 21 anos, eu costumava brincar com a idade que eu completava, então: 21 era associado a poker; 22 eu não me lembro; 23 ao filme do Jim Carrey (eu já vivi momentos iguais ao dele encontrando o livro de capa vermelha); 24 também não me lembro; 25 era minha boda de prata nesse casamento comigo mesma, e What's Up, do 4 non blondes; 26 eu deveria ter feito algo sobre a biografia de Graciliano Ramos (que tinha 56), ou devo ter usado Belchior. E 27, bem... Passei boa parte do meu pré-aniversário achando que iria morrer tal qual Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain e esse Clube dos 27. Não que eu seja uma artista psicodélica e drogada. Mas ouço música como se eu mesma as compusesse, representasse, parisse.

E eu morri, de outro modo. Não sou mais a mesma, definitivamente.

Mas... fênixes renascem. Das cinzas. Ai, gente. São tantas histórias para eu contar. Vou compilar abaixo dois textos que escrevi em frenesi. Um foi sentada num sofá de madrugada, com insônia. O outro, foi após uma visita inesquecível ao Museu de Arte de São Paulo - MASP.

Lembrei dessa caderneta verde enquanto ouvia Lullaby, do The Cure. A letra da música descrevia o primeiro texto, de julho. Ao folhear o caderno de sketchs - arquivado numa caixa lacrada há meses -, encontrei o segundo. Estou estudando História da Arte agora, hoje. Ler Cézanne na primeira linha da página à esquerda me fez curiosa de mim mesma.

Não tenho o costume de me ler. Mas escrevo com muita intensidade, uma maneira não-literal de abrir minha barriga e puxar meus órgãos pra fora. Escrevo com muita intuição também. E, às vezes, o que eu escrevo não sou eu escrevendo, pelo menos não somente. Percebi, nas últimas semanas, que sou muito DARK: escrevo as coisas no passado, para me aconselhar no futuro, que na verdade é o presente. Não intencionalmente, como as piegas cartas que as pessoas escrevem para si mesmas e guardam numa cápsula do tempo. Não. Eu sento, escrevo como me vem. Guardo. Nunca mais leio. Sim, eu não me leio! Só que, ultimamente, a vontade e a necessidade da auto-leitura é incessante. Então me vêm sussurros no ouvido que ativam flashbacks, e eu sei exatamente o que devo buscar e averiguar. E só vou. E aí está:


28 de julho de 2019

... escrever por cima da escrita
é apagar ou incrementar uma história?
Já escolhi boa parte do meu destino aqui e agora.
Não dormir é oportunidade para pegar o caderno e escrever
sempre escrever.
Minha missão é professar. Levar a palavra. Buscar no outro a satisfação de mim mesma.
Porque  sou completa na minha arte y pensamento e experiência.
Preciso me ler, para me entender e me ver como o outro me vê. Me reconhecer como pessoa. Como importante e necessária. Me amar por dentro. Me amar na alma.

O SOL há de brilhar mais uma vez.


5 de outubro de 2019

Desde que vi Cézanne et moi, estava para rever suas obras no MASP, dessa vez depois do impacto que o filme me causou.
No segundo andar ele possui cinco obras, ao lado de quatro de Van Gogh.
Dessas nove, cinco particularmente me tocaram.
Saí abalada do cinema sem rumo, e decidi ver essas obras. Era uma visita exclusiva de Cézanne.
Eu tive uma crise de choro.
Primeiro, porque existe ali a obra xxx (sic), onde aparece seu amigo Émile Zola. O filme trata dessa relação tensa e do fim trágico, com uma ruptura irreparável. Observei bem a face de Zola. Me senti Cézanne.
Paul Cézanne. Paul Alexis lê um manuscrito a Zola, 1869 - 1870
Dele, mais duas obras, que me lembraram do meu passado e meu propósito de vida.
O passado: O grande pinheiro que para ele fez sombra na infância, me remeteu ao grande juazeiro, que me refrescava no terreiro do sítio do areal, em 1999.
Paul Cézanne. O grande pinheiro, 1890 - 1896. | Sítio Areal - PB, 2015. Literalmente: Cézanne et moi
Depois, rochedos que me lembravam visões que tenho sobre minha profissão na vida: observar e retratar o mundo como historiadora, artista, escritora, memorialista.
Paul Cézanne. Rochedos em L'Estaque, 1882 - 1885
Mas a grande crise veio com Van Gogh.
A primeira tela reproduz exatamente o brilho do sol que vaza das frestas das copas das árvores e ilumina as folhas secas. Aquele traço voa da tela para a sua cara, tornando vivo um retrato da realidade. Seria capaz de emanar aromas, sons, vindos diretamente do passado.
Vincent van Gogh. Banco de pedra no asilo de Saint-Remy, 1889
Na sua segunda, e última obra retratada nesse post, eu entrei em catarse. Para isso, o silêncio basta.

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Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo