Henri de Toulouse-Lautrec - The Hangover (Suzanne Valadon), 1888. |
Então tem o Graciliano. Nordestino como meus pais, tios e avós. E o alagoano que se filiou ao PCB há 72 anos disse em suas Memórias do cárcere:
Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões.Essa frase desse não-poeta está tatuada em minha alma. Porque sou e estou apaixonada, todos os dias, no bom e no mau sentido da palavra. No sentido de Camões.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
E parece-me que a poesia só surte efeito quando você está dentro dela, vivendo-a, com o peito rasgado, ferido, e a cabeça quente, fervendo, derretendo, escurecendo as vistas.
Então hoje (23 de agosto) o almoço na fundação para a qual trabalho foi temático. As crianças assistidas pela fundação, e em parte pelo museu da fundação (sou mais ou menos professora, quando nunca, depois de grande, quis ser, e ainda bem que bebi dessa água que não beberia), fizeram trabalhos comoventes sobre a região Sul do país. A comida também fazia questão de lembrar o cotidiano sulista, talvez com estereótipos, mas pulemos a parte da comida do corpo direto para a comida da alma:
Estava lá, aquele que eu não aguentava mais ver estampado em páginas hipsters do facebook com seus versos burgueses paulistas mal feitos (da página, no caso, e não o artista em si), o tal do Paulo. Não só ele, mas a adaptação de sua obra em obras dos meus pequenos - que na verdade são mais altos que eu, no auge dos seus 13 anos. Além disso, seus versos, suas visões de mundo em poucas palavras, que eu, com tantas palavras ainda consigo conservar o meu silêncio e ser um mistério para mim mesma.
Reclamei aqui algumas vezes sobre minha dificuldade cada vez maior de expor sentimentos, que acontecia na mesma proporção em que me era cada vez mais fácil expor ideias. Um amigo disse que é porque na adolescência a gente só sabe dizer o que sente, porque só sente e pouco faz, profissionalmente falando. Na maturidade ocorre o contrário: nos dedicamos ao profissional e o sentimental vai enrijecendo, como uma máquina velha, deixada no canto para oxidar e criar teias.
Como sou uma pessoa carregada de memórias e nostalgia, e o afeto que sinto germina por essas vias, consegui reviver pedaços gostosos e dolorosos em mim neste último mês. Por ter estado apática nos últimos anos, essa re-vida foi algo apocalíptico como o Eclipse do Lado Escuro da Lua. Agora parece que abri o peito novamente, depois de um tempo mergulhado na racionalidade e nos sentimentos de rancor, culpa e pena. Por falta de costume, estou sem jeito, dolorida, cansada, desesperada, e cinco minutos depois estou serelepe, sorrindo, gargalhando - de euforia e desespero -, choramingando (porque não consigo mais - ainda - chorar direito {parece que consigo sim, de soluçar, aconteceu}), pensando, suspirando, falando sozinha.
Tanto pedi e busquei ter o coração batendo forte por tudo que faço e que me é caro, para me sentir viva, que me veio retumbar no peito algo além de minha capacidade física, algo que não cabe em 1,57 de altura, nem mesmo numa mente que se ocupa dezessete horas por dia.
Então hoje (23 de agosto) o almoço na fundação para a qual trabalho foi temático. As crianças assistidas pela fundação, e em parte pelo museu da fundação (sou mais ou menos professora, quando nunca, depois de grande, quis ser, e ainda bem que bebi dessa água que não beberia), fizeram trabalhos comoventes sobre a região Sul do país. A comida também fazia questão de lembrar o cotidiano sulista, talvez com estereótipos, mas pulemos a parte da comida do corpo direto para a comida da alma:
Estava lá, aquele que eu não aguentava mais ver estampado em páginas hipsters do facebook com seus versos burgueses paulistas mal feitos (da página, no caso, e não o artista em si), o tal do Paulo. Não só ele, mas a adaptação de sua obra em obras dos meus pequenos - que na verdade são mais altos que eu, no auge dos seus 13 anos. Além disso, seus versos, suas visões de mundo em poucas palavras, que eu, com tantas palavras ainda consigo conservar o meu silêncio e ser um mistério para mim mesma.
Releituras dos jovens |
Reclamei aqui algumas vezes sobre minha dificuldade cada vez maior de expor sentimentos, que acontecia na mesma proporção em que me era cada vez mais fácil expor ideias. Um amigo disse que é porque na adolescência a gente só sabe dizer o que sente, porque só sente e pouco faz, profissionalmente falando. Na maturidade ocorre o contrário: nos dedicamos ao profissional e o sentimental vai enrijecendo, como uma máquina velha, deixada no canto para oxidar e criar teias.
Como sou uma pessoa carregada de memórias e nostalgia, e o afeto que sinto germina por essas vias, consegui reviver pedaços gostosos e dolorosos em mim neste último mês. Por ter estado apática nos últimos anos, essa re-vida foi algo apocalíptico como o Eclipse do Lado Escuro da Lua. Agora parece que abri o peito novamente, depois de um tempo mergulhado na racionalidade e nos sentimentos de rancor, culpa e pena. Por falta de costume, estou sem jeito, dolorida, cansada, desesperada, e cinco minutos depois estou serelepe, sorrindo, gargalhando - de euforia e desespero -, choramingando (porque não consigo mais - ainda - chorar direito {parece que consigo sim, de soluçar, aconteceu}), pensando, suspirando, falando sozinha.
Tanto pedi e busquei ter o coração batendo forte por tudo que faço e que me é caro, para me sentir viva, que me veio retumbar no peito algo além de minha capacidade física, algo que não cabe em 1,57 de altura, nem mesmo numa mente que se ocupa dezessete horas por dia.
Mesmo que me aperte essa sensação sem nome
Ou que me faça engolir a seco a minha sede é de...
Olha.... Que coisa LINDA esse texto. Tanto que nem consigo formular um comentário muito coerente.
ResponderExcluirTão íntimo, pessoal e sensível.
Eu tinha (ainda tenho um pouco, admito) uma relação parecida com a poesia... Até também conhecer o Neruda e a Florbela Espanca. Ainda é difícil, mais do que nos outros gêneros literários, algo me agradar, mas agora sei que é possível e muito. :)
a gente vai entrando na poesia conforme a vida vai acontecendo, né? nunca me senti tão inspirada (e dolorida) em toda a minha vida. hoje, se fosse para negritar uma frase deste texto, seria Camões novamente: "é ter com quem nos mata, lealdade.".
Excluirobrigada pelo comentário <3
eu sinto que poesia é um pouco como o açaí (ou a comida japonesa) do universo das artes: você tem que provar e insistir até que realmente comece a gostar.
ResponderExcluiré verdade! dessas três coisas que você comentou, só da comida japonesa não comecei a gostar ainda rssss mas é isso: nunca dizer nunca.
ExcluirAdorei o seu comentário no meu blog (ele caiu na caixa de spam, e por essa razão, eu não o tinha respondido ainda). E que blog cheio de coisa linda, hein? Poesia, sentimento, música, arte. Já gostei de tudo!
ResponderExcluirah! <3
Excluir