Gustave Caillebotte - Rue de Paris, temps de pluie, 1877 |
Sou apaixonada por rostos que acabaram de acordar, inclusive o meu. Uma pessoa que acabou de acordar, com o cabelo assanhado, a cara de "onde estou, quem sou eu, o que está acontecendo?", as olheiras vermelhas (eu adoro olheiras, sabe; e ainda bem, porque nasci com elas), a voz rouca, a preguiça, a desorientação e, no meu caso, o silêncio. Não interessa se estou de bom ou mau humor, eu de manhã falo muito, muito pouco, quase nada.
Cafuné!
Café!
Ir para lugares ouvindo música e prestando atenção na paisagem. Quando é um caminho que gosto muito e a distância se mede temporalmente em mais de uma hora, com certeza estarei ouvindo o disco Live at Pompeii, do Pink Floyd. Também adoro ligar o som e dar um cochilo, dependendo do horário, e se estou sentada no ônibus.
Dar bom dia a desconhecidos. Sorrir para eles, sabendo que essa é a única vez na vida que nos encontramos, provavelmente, e cordialmente trocamos coisas boas num gesto simples, rápido e indolor. Quando acontece de nos revermos, de nos reconhecermos, é melhor ainda. É uma amizade sem nome e sem compromisso nenhum.
Andar e observar - de novo - a paisagem. A arquitetura das casas, o modo de viver dos bairros, sentir o vento e ouvir os passos. Dar oi pro gato naquela garagem, sentir medo do gnomo daquele jardim, fotografar aquela flor e querer saber a cor da tinta daquela parede. Tenho o costume, desde sempre, de observar casas e apartamentos, fragmentos internos, e imaginar toda uma vida. O que o marido está assistindo, o que a mulher está fazendo, os gostos dos filhos, os empregos, preocupações e motivações de vida de cada um (como pessimista e intolerante a padrões que lê Buk e Dosto e ouve Raulzito, eu acho essa rotina toda um saco - mas esse jogo de adivinhação é uma delícia).
Bares. Não botecos-boutiques da Vila Madalena (Vila Madá para os paulistânos, mêo), mas os bares verdadeiros, com caixas de cerveja empilhadas, prateleiras tortas e garrafas diversas com conteúdos também diversos e às vezes sem rótulo, um balcão, o dono e um freguês, uma televisão com futebol, noticiário ou uma conversa. Um comentário. E, neste momento, meus amigos, que se exploda o politicamente correto. A simplicidade, crueza e ebriedade de um bar para mim é a mais pura poesia e humanidade. Mesmo que... não, não interessa o assunto e a opinião.
Atravessei a rua, entrei numa bodega.
- Faz o obséquio de me dar um pouco de aguardente?
O homem da venda trouxe a garrafa, pôs-se a despejá-la num copo sujo.
Como eu não o interrompesse, derramou a bebida com sovinice.
- Quer que encha?
- Vá botando.
- Ah! bom. É o que se leva deste mundo, opinou entregando-me o copo cheio.
Sentei-me e comecei a beber, olhando a casa fronteira, o pensamento espalhado.
Aquele momento que fico tão completamente empolgada que gaguejo, balanço os braços, digo as coisas todas na ordem errada e quem me ouve dá risadinhas. O mesmo quando eu sou a ouvinte. Tipo cena de insight de filme de mistérios e aventura, onde dois personagens perambulam pela sala com cara de interrogação, simultaneamente lhes aparece a exclamação e, por algum motivo, possuem uma fala sincronizada de eureka tão ou menos inexplicável que um musical com toda a cidade desconhecida entre si dançando e cantando do mesmo jeito. Amo (só não amo musicais). (p.s.: os vídeos a seguir possuem spoilers)
Minha linha de pensamento é idêntica a do Todd e kkkkk adoro esses filmes bestas do Nick Cage |
Café novamente! Mas não o simples ato de bebê-lo. É esperar um dia inteiro pelo café da tarde e ter o prazer de ouvir a água quente jorrando por cima do pó, fazendo subir um aroma indescritível de paz. Café com mamãe e biscoitos da casa do norte, café sozinha com anotações em minha caderneta e suspiros apaixonados ou preocupados, café na pausa do trabalho com causos e uma boa prosa, café para aguentar as próximas oito horas, para me inspirar, me motivar, lembrar que a vida não é só problemas. Café.
fonte. russa, é claro |
Comer salada de frutas. Mas pelo amor de Deus, sem leite condensado, isso é criminoso. Salada de frutas é com frutas e o único líquido deve vir da maior fruta de todas, que é o suco de laranja. E só. Amo muitas comidas mas essa é aquela que a gente ama tanto que esquece de mastigar direito e quase se engasga e quer enfiar na cara (talvez eu seja uma comedora aflita, não façam isso em casa).
Dormir ao som da chuva, ventania, sapos, grilos, ou cães latindo ao longe. Dormir de cansaço e nem sonhar (eu sonho muito, não aguento mais).
E a mais novíssima melhor sensação de todas do momento: ir dormir com essa trilha sonora, in a specific way. Is such a heavenly way to sleep.
Você sou eu? huahua, você falou sobre tudo que eu gosto, e usando uma escrita tão maravilhosa e envolvente, por favor, escreva mais <3.
ResponderExcluirCom amor,
♥ Bruna Morgan ♥
hahahaha será se somos a mesma pessoa? escreverei, com certeza <3 obrigada!
ExcluirEsse post me deu uma sensação de paz. Tô me arrumando pra sair do trabalho depois de um dia corrido e lendo isso só pensei: quero ir pra casa viver minha vida hoje da forma mais calma e apreciando cada coisinha. O cheiro da patinha dos gatos. Uma playlist calminha pra relaxar. Meus momentos de paz e se possível, um ventinho no rosto enquanto caminho.
ResponderExcluirPosso fazer um assim também? Quero muito :)
Beijo
Pale September
faça sim, por favor! preciso também lembrar desse texto de quando em quando. <3 beijão, e fico feliz pela sensação que deu.
ExcluirMas que listinha mais amorzinho, tô encantada ♥
ResponderExcluirMe identifiquei com quase tudo da lista, e o que não me identifiquei, tive vontade de me identificar haahaha' Quis fazer algumas coisas que você listou e que nunca experimentei, tipo barzinhos e gatos (não tenho, infelizmente).
Também gosto de gente que acabou de acordar, acho um momento de pura inocência de qualquer ser humano hahaha
Bjs!
¤ 31 de Março
<3 bares e gatos são ótimos!
Excluirsim! acordar é muito inocente, eu fico apaixonada.
bjao!
Muitas coisas da sua lista me fariam feliz também, me identifiquei bastante. Vamos tomar um cafezinho e imaginar como deve ser a vida das pessoas que moram nessas casas que a gente gosta tanto de observar?
ResponderExcluirSobre minha cara de sono... às vezes fica mais bonita que no resto do dia, quando estou finalmente acordada.
vamos, vamos sim! adoro flanar pela cidade.
Excluirtambem costumo me achar mais bonita pelo amanhecer!