19.2.23

Sorrow ate me, I'm not me anymore

Por motivos que não me cabem escrever, e que não aguento mais dizer para mim mesma o tempo todo, não quero mais saber das redes sociais. Foi ruim enquanto durou, agora chega. Tenho lido mais, depois de anos de angústia por não conseguir terminar nada que eu começasse; voltei às velhas músicas que dizem mais sobre mim do que posso me lembrar de mim mesma; aos velhos filmes que me causaram espanto e me fazem pensar que o silêncio vale mais do que todas as palavras.

Wild at heart. David Lynch, 1990

Nunca gostei de me ler, não sei dizer o porquê. Acho que sinto vergonha das raivas do passado, ou do modo como foram expostas as raivas do passado, já que as raivas continuam as mesmas. Tudo o que digo na hora parece lindo, sincero e bem montado, mas tudo envelhece numa cafonice que eu não aguento e decidi arquivar algumas coisas. Mas não só por isso arquivei: eu quero mesmo ter mais olhos voltados para o corvo, e não para a ovelha — nunca percebi como sou dada aos animais: fábulas, gravuras, contos. Animalizar a vida é meu jeito de viver. Talvez seja uma rebeldia contra a "civilização", meu maior ódio como conceito e como materialidade.

La Double Vie de Veronique. Krzysztof Kieślowski, 1991

Na semana em que arquivei e cansei do template e tudo mais, descobri que Vanessa me incluiu num projeto tão maravilhoso que me sinto parte da história da blogosfera: Blogueiros Raiz. Vejam bem: eu quase matei um velho mundo. A gravura Angústia, que por um acaso do destino existe e encontrei na internet, poderia ilustrar o momento em que este blog morre e os corvos tomam conta de seu corpo, para comer-lhe os olhos. Combina tanto com minha simbologia pessoal que parece o destino ditando minha vida como se eu fosse marionete. Mas fiquei feliz de ser lembrada como parte da história de algo tão importante que são os diários de internet. É antissocial: é anti-rede social e também sei que é o espaço de desabafo e segurança para muitas pessoas que não encontram compreensão em casa, no trabalho, ou no mundo. E faço parte dessa anti-sociedade. Então decidi, por causa dessa honra que Vanessa me deu, deixar o velho mundo ainda velho, velho como o Tempo que a todos nós — graças aos deuses — devora. Alguém tem que ter o estômago que eu não tenho para levar embora toda essa mediocridade na era de sua reprodutibilidade técnica.

Saturn devouring his son. Peter Paul Rubens, 1636

Talvez eu republique textos do passado, afinal são 15 anos de blogspot, e 10 de um velho mundo. Se você gosta de algum em especial, me mande um e-mail solicitando, vou ficar muito feliz. Agora, posso voltar com coisas banais: aquelas tags e memes de blogueira, listas de músicas, filmes, desenhos feios para eu treinar e conseguir chegar em desenhos bonitos... — não: desenhos bonitos para eu treinar e conseguir chegar em desenhos feios! É a feiura que me encanta. 

Bom, é isso. Um texto despretensioso neste velho diário de meu-deus. Peço encarecidamente que, se gosta das minhas palavras, que me acompanhe no site e nas newsletters. Pus gatdgets em todos os cantos dessa página. Eu demoro para escrever, porque toda escrita me é uma revolta e me causa mal físico, mas escrevo, o mundo pode se acabar que eu escrevo mesmo assim.

Página de sketchbook de Marc Chagall. Fonte

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Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo