Ricardo Siri Liniers |
Quando eu era pequena, corria da minha sombra, porque achava um desaforo ela passar na minha frente, e eu que devia chegar primeiro nos lugares. Nesses momentos a Helen de três, quatro anos, vivia com os olhos grudados no asfalto, preto, brilhoso, iluminado pela lua.
King Crimson - Larks' tongues in aspic, 1973 |
Eu dentro de mim. Quando era pequena, mais nova ainda, achava que era uma índia, com os cabelos nos ombros caídos, negros como a noite que não tem luar. Passava em frente a qualquer espelho e via que não, então saía correndo, indignada. Eu queria ser índia, por algum motivo.
Por algum motivo, a despeito dessa revelação, eu adorava brincar com espelhos. Aquele espelho de moldura plástica laranja, eu sentava no chão de casa, lá em Paraisópolis, cimento queimado. Posicionava o espelho de todas as formas e via o mundo lá de dentro, com umas perspectivas que hoje tenho o enxerimento de dizer que eram até construtivistas. O mundo avesso, tão maior, tão cheio de novidades. Eu queria entrar lá dentro e viver ao contrário. A porta da direita que era na esquerda, esse tipo de coisa.
Dario Argento - Profondo Rosso, 1975. (David Hemmings) |
Mosteiro de São Bento, até aquela exposição sobre o construtivismo russo com fotografias de Aleksandr Rodchenko na Pinacoteca do Estado de São Paulo (comigo não é "Pina_" nunca não, falou) em 2011 que jamais esqueci. Porque construtivismo russo basicamente traduz meus sonhos.
Assim como o filme que Orson Welles (que homem) fez em adaptação de O Processo, de Franz Kafka (que homem, que livro, também me lembro o exato momento em que encontrei numa prateleira lá no fundo do Sebo do Messias), com edifícios surpreendentemente grandes em vista da pequenez de Josef K., aquele magrelo ombrudo lindo denominado Anthony Perkins; filme esse que ilustrará meu artigo em sua revista digital.
Orson Welles - The trial, 1962. (Anthony Perkins) |
Sinto o frio entrando pelos ossosContudo, estou sabendo explicar de alguma forma, porque existe uma coisa chamada marxismo e outra materialismo histórico, e uma pessoa chamada Pierre Bourdieu, outra chamada Raquel Rolnik e outra Gregori Warchavchik, que por acaso nasceu em Odessa, cidade Ucraniana que tem essa maravilhosa escadaria de Potemkin, a mesma de Eisenstein, com a maior fotografia de todos os tempos:
Como uma coisa um troço
Não sei explicar
Aleksandr Rodchenko - The Stairs/Steps, 1929/30. |
Me desesperei de modo abissal em 2017, por motivos infinitos: do cuore, de família, de trabalho, de escola técnica, de mim mesma. Me desesperei para escrever, me desesperei escrevendo, me desesperarei com o tempo e com a entrega. Mas é assim que me sinto viva, se não tivesse esse tum-tum-tum-bate-bate meu coração, que zabumba bumba esquisito, batendo dentro do peito, eu nada seria.
A construção que liga os diversos parágrafos dos teus textos é única, de um estilo próprio que a gente reconhece de longe. ;)
ResponderExcluireu fico feliz de ler isso, Carolina, porque um dos problemas entre orientadora de tcc e eu é que ela mandava eu conectar mais os parágrafos! hahaha
ExcluirQue texto, ein, Helen?
ResponderExcluirTô torcendo pra ver você aqui logo, dando boas notícias sobre o fim do tcc e finalmente livre para curtir as férias!
como você já viu no texto seguinte, terminei! :D agora o sossego, esse estou trabalhando para ter, finalmente. :)
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