5.9.20

15. Sympathy for the devil

Skeet Ulrich's Billy Loomis at Wes Craven's Scream (Pânico), 1996
Não me responsabilizo por pessoas sensíveis ou menores de 18 anos que leiam o que vem a seguir. Contém spoilers, cenas de violência com gatilho - literalmente.
Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for a long, long year
Stole many a man's soul to waste

Existem milhões de covers que eu poderia ter escolhido para esse desafio, mas agora são 20h29 de um sábado, estou burlando minha dieta gástrica com um vinho branco enquanto leio sobre knife play, e me deu uma vontade de ouvir Guns. Mas não ouvir Guns and Roses, ouvir um bom cover de Guns and Roses.

Eu amei essa banda no início de meu ensino médio, ouvia tanto quanto Bon Jovi e Metallica. Em parte aprendi a gostar na infância com minha prima Suzany, ou meus pais que amam Don't Cry (que tocava muito nas rádios na época em que nasci, então marcou a vida do meu velho). Em outra, porque nasci lasciva e sempre amei filmes como Exterminador do Futuro (You could be mine), passando as madrugadas assistindo ao Domingo Maior desde - no mínimo - meus três anos, sonhando ser a namorada de um Jean-Claude Van Damme jovem fumando charuto, um Mark Dacascos lutando capoeira contra uma gangue latina, um Brandon Lee vestindo uma calça de couro com um corvo no cangote em frente a uma janela quebrada ou um Jackie Chan de regata.

Tenho revisitado minha vida como uma estrangeira que ouve histórias de locais em uma cidade empoeirada de beira de estrada. Já disse em diversas sessões de terapia e áudios com Carol e Débora que minha alma é de um motociclista quarentão bebendo whiskey e brigando com socos e porradas em um bar de portinhola vaivém. Esse pensamento não é constante e volta e meia aparece para mim, talvez tenha a ver com o meu período ovulatório ou coisas que me esbarro por aí. Talvez seja o momento certo de aparecer, ou o que a música me traz. Sou muito sensorial e me desconfio uma empática, então o mundo me toca os sentimentos como o ar entra nos poros da pele. Moods.

Talvez quem me lê e me conhece tenha uma visão mais detalhada de mim - eu mesma não tenho. Mas vou recordando de mim nesses insights. Tenho um gif que guardo no coração, e é uma cena de Suspiria: uma cena em que o assassino da história esfaqueia uma das bailarinas e o coração pulsa, cortado. De primeiro, achei poético, um modo de ser literal com a metáfora. Um belo exemplo de 3 de espadas, em teoria e prática. Mas eu depois fui percebendo que é muito mais profundo do que isso: sempre me percebo apaixonada por aquilo que de primeiro me deixou em pânico, incomodada, com raiva. Minha paixão é agressiva, assim como eu.

Dario Argento - Suspiria, 1977
Just as every cop is a criminal
And all the sinners saints
As heads is tails
Just call me Lucifer
'Cause I'm in need of some restraint

Aí o último grau de entendimento bateu ontem, quando vi a capa do filme Pânico e me dei conta do real motivo de eu amar esses filmes. Além do medo causado, das boas histórias e atores. Eu sempre gostei de um vilão maluco. Não deve ser coincidência eu fazer parte da equipe do Filme-C, por mais que o gosto pelo terror seja completamente diferente no meu caso: é estreitamente ligado à sexualidade. E o Ghostface tem tudo a ver com isso. Não só por segurar uma faca - que agora sei que é uma bowie-knife Buck 120 -, mas pela própria vestimenta e a máscara de fantasma em desespero. É completamente sexy.

Um belíssimo exemplo de knife play que foi longe demais. Seria Pânico pornô?
You are the knife I turn inside myself; that is love. That my dear is love.
Franz Kafka
Foi no risca-faca que te conheci

Uma pessoa que a vida toda amou uma porradaria, tiros e facadas (pelo amor de deus não problematizem isso, não é alusão a nada). Que não é nem um pingo pacifista. Que tem como cena favorita de Kill Bill o topo do quengo de Lucy Liu ensanguentado caindo na neve. E ama assassinos de luvas negras dos giallos italianos. Que teve não somente uma, mas diversas visões da morte, seja ela com crânio de corvo ou com espada arthuriana. Que quase orgasma ao ouvir Belchior dizer "eu quero que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês" (uma pena que o hipsterismo sudestino instagrâmico tenha destruído essa poesia). Eu sou o que sou, afinal.

Pouco me lembrava desse cover, mas um dia minha irmã comentou como gosta e fui ouvir. Era uma dessas semanas especialmente motociclistas de mim, então estava lasciva como um caralho. Aí a desgraça estava feita né? Até porque Axl Rose canta como se estivesse ejaculando e o Slash é uma perfeição de homem (e eu sua perfeita cover, quando enjubada).

Ainda bem que o ser humano é criativo e toda violência pode ser transformada em arte. Seja a arte musical, cinematográfica, plástica ou mesmo a impressionante e saborosa arte do BDSM. Como uma boa lua libriana, tenho estética e elegância suficiente para tal, e uno essa beleza selvagem em textos como esse.

15. a song that is a cover by another artist (uma música que seja cover de outro artista)

So if you meet me
Have some courtesy
Have some sympathy, and some taste
Use all your well-learned politesse
Or I'll lay your soul to waste, mm yeah
Matthew Lillard: um desejo de infância

Acompanhe todo o desafio do 30 day music challenge!

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© um velho mundo
Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo