13.11.19

30. Central / Heaven

The Empyrean é uma história que não tem nenhuma ação no mundo físico. Ela ocorre nos espíritos de todas as pessoas ao longo de suas vidas. O único outro personagem é alguém que não vive no mundo físico, mas está lá dentro, no sentido de que ele existe nas mentes das pessoas. A mente é o único lugar que nada pode ser tão verdadeiro para existir. O mundo exterior é apenas conhecido para nós como ele aparece dentro de nós pelo testemunho dos nossos sentidos. A imaginação é o mais real do mundo que nós conhecemos, porque cada um sabe em primeira mão. Ver as nossas ideias tomando forma é como ser capaz de ver o sol nascendo. Não temos equivalência ao grau de pureza disto no nosso mundo exterior. No mundo exterior, parece que cada um de nós somos uma coisa e sempre também uma infinidade de outras coisas. Dentro para fora e de fora para dentro são intermináveis. Tentamos achar uma forma de respirar.*
Considero o ano de 2009 como marco essencial para minha individualidade perante as pessoas em questões musicais. Passei a infância ouvindo o que meus pais ouviam, parte da adolescência ouvindo o que meus amigos ouviam. Mas, a partir de 2009, ou até um pouco antes, 2008, rompi brutalmente com tudo isso. Tanto, que demorei uns quase dez anos para me habituar com a música "social" novamente.

Acontece que desde 2006 ouço Red Hot Chili Peppers. E desde não sei quando a minha conexão com John Frusciante ficou mais evidente, em especial. Lembro de assistir algum programa da MTV que comentou sobre o videoclipe Going inside, do disco To Record only water for ten days, e de vídeo dirigido por Vincent Gallo. Achei tão bonito que quis procurar. E achei o Gallo maravilhoso também, a partir daí. Na época, o vídeo só podia ser visto no Vimeo, se não me engano. Inacessível demais, coisa que todo adolescente que se sente incompreendido gosta.
Sabendo mais sobre Frusciante no meu navegador Mozilla Firefox, com Windows XP e internet discada - eu juro que sinto saudades desse tempo -, descobri sua relação com as drogas e a saída do RHCP em 1992. Mais que isso: descobri Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt. E minha amiga Eve, a eterna Duchampiana. E meu disco favorito na época: Smiles from the streets you hold, que infelizmente não tem no Spotify. Com o Smiles pintei minha primeira tela, que por acaso se acabou nalguma chuva entre 2018 e 2019. Foi uma experiência única mexer com tinta e música sozinha num canto em cima da minha casa. Pena que não repeti mais.
Não é por acaso que esse blog tenha a mesma idade de minha relação com John Frusciante. Foi quando entrei no ensino médio e quando consegui meu primeiro estágio. Um pezinho para fora do mundo estudantil. Um primeiro florescimento de mim mesma. Ou mais um. Passava os dias no estágio, naquela sala branca de informática, mexendo com html e ouvindo John Frusciante. Todos os dias, todo o tempo. Quando meu avô morreu, em 2007, e isso me fez perceber que ouço Frusciante há pelo menos 12 anos e não 10, minha música de luto era Song to sing when I'm lonely. Não chorei a morte dele em doze anos. Me entupi de música no lugar.
2009 foi o ano em que John Frusciante definitivamente saiu do Red Hot Chili Peppers. Eu gostei. Foi no mesmo ano em que, em janeiro, ele lançou este que é meu disco favorito: The Empyrean. Hoje, como estudiosa de tarot e símbolos, enxergo diversos arcanos na capa, que sempre me fascinou. Nela, deitado está Josh Klinghoffer, que o substituiu na banda.

Pois bem. Poderia falar horas sobre esse disco, como sua primeira canção está em Love, de Gaspar Noé, e aquela em que esta foi baseada, Maggot brain do Funkadelic, também. Poderia falar sobre o cover de Tim Buckley, Song to the siren. Da fluidez das canções, que mais parecem aquele buraco de minhoca de Donnie Darko. De como encontrar alguém que saiba quem é John Frusciante é como enxergar meu próprio rosto no espelho.
Well, I don't have my own face
So c'mon and be replaced
Theres a future thats calling
But I don't see it coming
Esse disco está entre - se ele mesmo não for - meus discos favoritos da vida. Não é à toa meu nickname, que perdura há dez anos. Meu nickname é minha persona. Meu nickname sou eu.
We should be thankful who we are!
Whether we know ourselves or not!
Abaixo, algumas reflexões de Frusciante sobre o disco traduzidas.

"Ele percebe que a confusão e a dor tem sido a maioria das causas que fazem sua vida útil e prazerosa como as coisas que ele confundiu por pura bondade. Tudo aqui contém sua contradição e, portanto, para cima e para baixo, esquerda e direita, para a frente e para trás, feliz e triste, prazer e dor, são duas coisas, que são uma. E todas as coisas que acreditamos ser separadas são uma coisa. A ilusão de separatividade é a causa da dor, e também é parte da causa de todas as obras de beleza que as pessoas tem criado."* - Isso até lembra o Uno primordial, comentado por Nietzsche, em O Nascimento da tragédia. Comentei trecho no post anterior.

No mesmo fatídico 2009, me lembro de criar uma conta de e-mail no hotmail. Minha música favorita no disco é Unreachable, mas me lembro de ter, na hora, tentado o usuário centralheaven (por causa das músicas Central e Heaven), que deu certo. E que ficou, para sempre.

30. Uma música que te lembra de si mesma
Tudo o que importa para o seu "verdadeiro eu", é fazer o que você está aqui para fazer. Para estabelecer o contato direto com o seu "verdadeiro eu" e seguir o curso de ação que o seu coração dita. Não quer dizer que isso signifique que você vai ser sempre feliz e contente, mas ao longo do caminho você vai conhecer o significado de pura felicidade no momento em que ela chegar.*

THE EMPYREAN. Traduzido por Universo Frusciante.

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© um velho mundo
Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo